Giuseppe Oristanio Fala Sobre a Importância dos Atores Veteranos, Sucesso nas Reprises e Curiosidades de Sua Carreira

Na quinta-feira, dia 23 de janeiro de 2025, tive um bate-papo muito legal com o ator Giuseppe Oristanio. Conversamos sobre diversas coisas e, em destaque, ele respondeu algumas perguntas. Confira alguns trechos da nossa conversa:

Silvia Aguiar: Ultimamente as reprises estão fazendo o maior sucesso. Remakes também, mas as reprises estão surpreendendo. O que você acha que está acontecendo para que as reprises façam mais sucesso do que os remakes?

Giuseppe Oristanio: Porque reprise carrega uma memória afetiva que o remake não carrega, né? A reprise mostra atores que as pessoas carregam no coração, fazendo uma história escrita por gente absolutamente consagrada no ramo da dramaturgia televisiva. Eu acho que um dos problemas – não é o único, não –, mas um dos problemas da dramaturgia que se faz na TV aberta hoje em dia é o fato de acharem que podem abrir mão de bons autores. Assim, não estou dizendo que todo mundo que escreve hoje em dia é ruim. Não é isso que eu quero dizer, não. Mas uma pessoa que escreve uma novela de sucesso tem uma bagagem intensa. Todas essas pessoas que estão começando a escrever agora também terão essa bagagem daqui a uns 15 anos. Assim como os atores, muitos deles que estão começando agora também terão essa bagagem daqui a uns 10, 15, 20 anos, entendeu? Então, é preciso que esses autores novos comecem a escrever junto com gente consagrada, assim como os atores novos comecem a trabalhar como era antigamente. Você tinha, no elenco de uma novela, trinta pessoas experientes e cinco ou seis inexperientes. Então, essa inexperiência ficava diluída no meio de um monte de coisa boa. E a experiência não é uma coisa que você possa comprar. A experiência é uma coisa que você adquire apenas com o tempo. Eu mesmo, nessa novela Como Salvar Meu Casamento, que não foi meu primeiro trabalho na TV, mas foi a minha primeira novela, ainda hoje, às vezes, sonho com cenas muito ruins que eu fiz. Hoje, depois de 45 anos, fico envergonhado de coisas que eu fiz na TV Tupi. Mas eu estava diluído no meio de um monte de gente boa. Então, o conjunto geral da obra me protegia.

Hoje em dia criou-se uma noção de que... Aliás, não é uma noção muito nova, não, mas é uma noção de que qualquer um pode ser autor, ator... Qualquer um pode se sentar diante do computador e escrever uma novela. E a coisa definitivamente não funciona assim, como não é qualquer um que pode entrar no hospital, abrir a barriga de uma pessoa e operar. As pessoas precisam ter um preparo cultural e um preparo técnico para realizar as tarefas às quais elas se propõem. Acontece que, como esse preparo para atores é um preparo muito na base da declaração pessoal, entendeu? Eu me declaro ator. Ninguém acorda e diz: “Eu sou médico”, bota um jaleco, pega um bisturi e opera um coração de alguém. Mas ator... As pessoas fazem isso. E muita gente que contrata acredita nisso também.

Silvia Aguiar: A pessoa tem um monte de seguidor, e já chamam porque acham que serve para ser o próximo protagonista da novela.

Giuseppe Oristanio: Às vezes dá certo, mas na maioria dos casos não dá. Ser ator é muito mais do que conseguir falar algumas palavras sem gaguejar. Você conhece um ator quando olha no olho dele. Quando a dona de casa está fazendo o jantar e assistindo à novela, ela olha para o cara e, se ele está falando para a mocinha “Eu te amo”, ela quer olhar no olho dele e acreditar nisso. Porque, se ela não acreditar, ela volta para a cozinha e larga aquilo ali. Um dos fatores de a dramaturgia da TV aberta estar se perdendo um pouco é justamente o fato de a coisa estar sendo feita por profissionais inexperientes.

Silvia Aguiar: (Maravilhada com a sabedoria de Giuseppe), comenta: Realmente, a Tieta (1989) tá fazendo um sucesso absoluto hoje em dia, dentre os jovens também. O que acontece que eles (os contratantes) não percebem que realmente falta os atores veteranos nas novelas?

Giuseppe Oristanio: Eu acho legal contratar gente nova, tem muita gente nova que é maravilhosa. Não é que tem que ter mais veteranos, é que, se você bota uma avó na novela, entendeu, essa mulher tem que ter cara de avó. Você não pode botar uma avó de 40 anos, uma filha de 30 e uma neta de 25 anos. Não fecha! Ninguém poderia ser mãe de ninguém ali. Essa coisa não bate. A pessoa vai questionar: 'Essa mulher é avó dessa outra aí? Não é. Essa aqui é mãe dessa outra aí? Não é!' 

Giuseppe Oristanio: Continua refletindo: A gente vai chegando numa idade... Tenho 66 anos. A gente vai chegando numa idade em que a gente pensa: 'Meu Deus do céu, quando eu tinha 20 anos eu achava que um cara de 66 anos tava derrotado, entendeu?

Silvia Aguiar: Acho que todos pensam isso dos mais velhos quando se é mais novo.

Giuseppe Oristanio: É o que todos pensam, mas não é verdade. É claro que eu não carrego um saco de cimento como um menino de 20 anos eventualmente possa carregar, mas a cabeça tá a mil, tá beleza. Eu não tenho mais a mesma jovialidade que eu tinha com 30 ou até com 40 anos, mas eu tô pleno, eu tô pronto pra fazer um monte de papéis que não podem ser feitos nem por um homem de 40, entendeu? Precisa ser feito por um homem de 60 anos. Existem coisas que só se você tem referências... Precisa ter as referências da sua própria vida e das vidas com quais você compartilhou ao longo da sua existência para entender certas coisas. E isso não é um defeito da juventude, absolutamente que não é, é a vida. E é muito bom você ver jovens. Quer coisa mais bonita? Eu mesmo, quando vejo uma foto minha mais novo, com uns 30 anos ou uma cena minha que eu fiz aos 30 anos, aos 20, ou até aos 40 anos, eu acho lindo demais.

Giuseppe Oristanio: Pra você ver uma coisa, minha filha Júlia falou pra eu fazer um TikTok. Ela fez, e eu tô achando muito bom. Mas muitas pessoas não me viram nos últimos 20 anos na Record e em lugar nenhum, e agora foram me ver no TikTok. Tem que ter grandeza de alma pra ler o que eles falam de mim: 'Meu Deus! O que aconteceu com esse homem?'

Silvia Aguiar: (indignada): Nossa, mas as pessoas não viram você nos últimos 20 anos na Record? Essas pessoas viviam onde?

Giuseppe Oristanio: Tá um caco, acabado!

Silvia Aguiar: (indignada): Imagina! Como assim? Que falta de respeito! Você tá um galã ainda!

Giuseppe Oristanio: Eu dou muita risada porque, felizmente, ao longo da minha vida o meu ego sempre foi muito massageado, então eu tenho uma reserva de elogios muito grande guardada dentro de mim. Então posso gastar com essas coisas!

(Silvia se acabando de rir ao fundo.)

Giuseppe Oristanio: Menina, o pessoal me detona! Mas meu conteúdo no TikTok tá muito legal, siga lá!

Silvia Aguiar: Outra coisa que quero falar, do seu livro, eu amei. (Mostra orgulhosa a dedicatória do livro.) Eu amei várias partes, mas a que eu dei muita risada e fiquei pensando sobre e rindo foi a parte do José Wilker, de quando você fazia teatro com ele e ele inventava que tinha pessoas famosas na plateia!

Giuseppe Oristanio: Olha, o Wilker é um cara de que eu sinto muita falta, mas muita falta, muita falta. Muita gente achava que ele era metido, mas ele não era metido, ele era tímido, então ele fazia um personagem, assim como eu sou tímido, eu entendo bem ele. Para viver nessa profissão, você inventa um personagem que não é tímido pra poder ter a convivência social que a profissão exige. E o Wilker, a gente fazia uma peça juntos que fazia muito sucesso, bem na época que começou o celular, sabe? Então pouquíssima gente tinha celular, mas de vez em quando, um celular tocava na plateia. Isso causava muito espanto, as pessoas falavam: 'Caramba! Tem alguém com celular aí!' Era muito raro ter celular. Quando acabava a peça ele falava:" (Giuseppe imitando a voz do Wilker.) "'Eu queria dizer que é muito bom que o nosso celular toque no lugar onde tem muita gente, porque senão como é que as pessoas vão saber que a gente tem celular, não é verdade? E queria aproveitar pra agradecer ali em cima a presença do Chitãozinho. Um abraço, Chitãozinho. Xororó não veio porque tava com um problema na garganta.' E o povo: 'EEEHHHH!' E batia palmas. Foi incrível! Todo mundo procurando ( e não achando, claro!)! Ele era uma figura, que figura. Um querido amigo de quem sinto muita falta.

Giuseppe Oristanio: Esse livrinho ( o dele 'Sempre Existe um Porém') eu me dei de presente quando fiz 50 anos de profissão em 2022. Eu tenho outras coisas que eventualmente vou publicar, mas esse saiu muito fácil porque essas são histórias que eu conto pra todo mundo sempre quando acontece algum bate-papo e o livro é o bate-papo meio compridinho.

Silvia Aguiar: Giu, você viu a nossa totalmente indicada Fernanda Torres? Acabaram de falar que ela foi indicada ao Oscar e tá o maior auê na internet por isso.

Giuseppe Oristanio: Eu vi sim, tô muito feliz por ela, porque ela merece, ela é genial. Muito feliz pela mãe dela, que sempre me apoiou demais, muito feliz pela família dela, muito feliz pelo cinema brasileiro e muito feliz pelo Brasil porque, embora a gente viva sendo metralhado, o cinema brasileiro tem nos dado muito, muito, muito, muito orgulho. Mas não quero falar da Fernanda porque ela já tá tendo muita chance de falar e ela arrasa, tem arrasado em todos os lugares onde ela vai, porque ela é muito simpática, é muito legal. Mas embora ela nos diga: 'Nossa, que surpresa!' e é mesmo, porque pra gente vencer essa bolha é uma loucura, mas ela encara isso como deve encarar: 'Eu sou atriz, eu tô no pé de todo mundo e poderia não ganhar, ganhar outro, mas ganhei eu e tá tudo certo.' E fala isso com muita naturalidade e tá tudo bem. Mas eu queria ressaltar o que pra mim tem sido... dá vontade de beijar ele toda vez que eu vejo, o Selton, o Selton...

Silvia Aguiar: Ah, o Selton, uma gracinha ele!

Giuseppe Oristanio: O Selton sempre foi uma gracinha ele e o irmão dele. Com o Selton eu nunca trabalhei, mas com o irmão dele eu já trabalhei. O Danton já fez meu filho, inclusive. Mas eu gosto muito do Selton, sempre gostei muito do Selton. Mas nesse episódio ele tem sido de um... agora ele meio que já voltou pro Brasil, eu não sei...

Silvia Aguiar: Não, ele tá lá ainda, tá gravando um filme (Anaconda).

Giuseppe Oristanio: Ah, é verdade, é verdade! É mais essa (conquista), você veja, ele demonstrou uma parceria, uma felicidade genuína, uma emoção feliz, isso me deixou tão radiante, sabe? Achei tão incrível a maneira como ele tem se portado nessa coisa toda, porque o Selton também é muito grande!

Silvia Aguiar: Nossa, demais!

Giuseppe Oristanio: O Selton é muito grande e foi muito bom ver a amizade, a alegria e o amor genuíno que eles têm um pelo outro, essa coisa de uma amizade enorme! Eu não duvido que ela ganhe esse Oscar, tomara, tomara!

Silvia Aguiar: Pergunta dos fãs que estão na live: você tem algum método para se preparar para um personagem?

Giuseppe Oristanio: Sempre existe algo, mas não é exatamente um método, é mais uma maneira de abordar o trabalho. Quando você faz um personagem, o primeiro passo é o trabalho intelectual. Você precisa entender o que aquele personagem representa individualmente, qual o seu papel dentro da história, como ele se relaciona com outros personagens. Depois, você empresta muito de si mesmo. Às vezes, é algo que está muito próximo de você, mas, em outros casos, você acaba trazendo também para o personagem aspectos que, muitas vezes, você mesmo prefere esconder, como a sua própria maldade, ou os aspectos negativos que você é capaz de vivenciar. O personagem pode precisar disso, e você tem que buscar dentro de si essas características, emprestá-las para ele e depois, claro, guardá-las de volta. Mas, sem uma preparação intelectual sólida, racional, não tem como a emoção aparecer. Se você não tiver o texto bem decorado, a emoção também não vai surgir, porque você acaba mais preocupado com o que vai falar, com o que vem a seguir. E a cabeça começa a pensar em outras coisas, como "o que estou dizendo?", e isso fica evidente na cena. A dona de casa em casa vai perceber: "Aconteceu alguma coisa com esse cara, ele está com dor de barriga, não está fazendo a cena direito.

Silvia Aguiar: Aí ela já troca de canal para ver o que está passando em outro.

Giuseppe Oristanio: É isso mesmo!

Silvia Aguiar: E muita gente nem sabe disso, né?

Giuseppe Oristanio: Tem muita gente que sabe, e muita gente que não sabe.

Silvia Aguiar: Muito obrigada, Giu.Esse bate-papo foi especial demais.

Giuseppe Oristanio: Fico muito feliz. Tomara que você consiga fazer essa live com várias outras pessoas. Se eu puder te ajudar de alguma forma, estarei à disposição, mas não conta que todo mundo é tão fácil assim.

Silvia Aguiar: Não conto com isso, não (risos). Mas você também não é fácil assim (risos).

Giuseppe Oristanio: Um beijo para vocês, para o seu filho, para Franca, e vamos em frente.

Silvia Aguiar: Muito obrigada, Giu. Beijo a todos e obrigada por estarem aqui.

 E assim chegamos ao final dessa conversa super enriquecedora com o talentoso Giuseppe Oristanio. Agradecemos pela participação dele, pelas dicas e pela troca de ideias tão inspiradora. Fiquem ligados, pois mais entrevistas como essa vêm por aí. Muito obrigada a todos que acompanharam a live e leram a transcrição dela aqui e até a próxima!

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