Ainda Estou Aqui: O Cinema Brasileiro Que Toca a Alma e Lembra o Passado

Por Silvia Aguiar

O cinema brasileiro segue sua caminhada de respeito e reconhecimento internacional, e Ainda Estou Aqui é um exemplo perfeito disso. Dirigido por Walter Salles e baseado no livro de Marcelo Rubens Paiva, o filme se aprofunda em um dos momentos mais sombrios da nossa história: a ditadura militar. Mas, mais do que isso, ele traz à tona uma história de dor, resiliência e, acima de tudo, de uma busca incansável pela verdade.

A narrativa se concentra na luta de Eunice Paiva (vivida por Fernanda Torres), que passou anos em busca de respostas sobre o desaparecimento de seu marido, Rubens Paiva, durante os anos de repressão. A trama é muito mais do que uma história sobre um desaparecimento forçado, ela é uma representação do sofrimento de milhares de brasileiros que passaram pelo mesmo pesadelo. O filme não se contenta em ser só uma história, ele é um grito de resistência. A performance de Fernanda Torres é, sem exageros, uma das mais impressionantes da sua carreira. Cada olhar, cada gesto, cada palavra da atriz transmite a dor e a força da mãe que se nega a desistir.

E, ao lado dela, a atuação de Fernanda Montenegro, em uma aparição silenciosa e profundamente tocante, é um ponto alto do filme. Mesmo sem dizer uma palavra, Montenegro, com a carga emocional que carrega em seu olhar, consegue transmitir de forma magistral a dor de Eunice ao ver seu marido na TV. A cena é um exemplo claro de como a experiência acumulada ao longo de uma carreira brilhante pode fazer toda a diferença. O que Montenegro traz para esse momento é algo que vai além das palavras, é uma força silenciosa, mas imensa, que carrega décadas de sofrimento e resiliência.

O diretor Walter Salles consegue, com muita sensibilidade, criar um ambiente de tensão política sem jamais perder de vista a humanidade dos personagens. A política está sempre lá, mas ela é sentida através das relações pessoais, do sofrimento de uma mulher que vê sua vida ser destruída pela repressão, sem saber exatamente o que aconteceu com seu marido, mas sem nunca deixar de lutar.

E é impossível falar de Ainda Estou Aqui sem mencionar a recente atualização da certidão de óbito de Rubens Paiva, que agora reconhece oficialmente que sua morte foi consequência de tortura pelo estado. Esse marco, depois de tantas décadas de luta da família Paiva, só reforça a importância do filme e da memória histórica que ele propõe manter viva. No final das contas, o que o filme nos diz é que a busca pela verdade nunca deve parar, e a memória de quem sofreu deve ser preservada.

O impacto do filme não se limita ao Brasil, como se pode ver pelas indicações e premiações conquistadas. Fernanda Torres, com sua atuação arrebatadora, recebeu o reconhecimento que merece, levando o prêmio de Melhor Atriz no Globo de Ouro e, mais recentemente, colocando o filme na corrida pelo Oscar de Melhor Filme Internacional. Esse reconhecimento mostra o quanto o cinema brasileiro está se destacando no cenário mundial.

Mais do que a técnica, mais do que a direção, Ainda Estou Aqui tem algo que tocou o público de uma maneira única. Ele nos lembra de que o cinema, quando bem feito, tem o poder de mexer com as emoções mais profundas e de nos conectar com nossa própria história. E é exatamente isso que o filme faz. Ele nos faz refletir sobre o que vivemos como país, sobre o que ainda não foi resolvido e sobre a importância de buscar sempre a verdade. A dor do passado não pode ser esquecida, e Ainda Estou Aqui é uma prova disso.

Em um Brasil ainda marcado pelas feridas da ditadura, Ainda Estou Aqui se apresenta como uma obra fundamental para que nunca nos esqueçamos do que aconteceu e, mais importante, para que nunca mais se repita. O filme não é apenas um registro, é um convite à reflexão, ao entendimento e à preservação da memória.



 

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